sexta-feira, 31 de outubro de 2014

'Espetáculo' de águas no semiárido do RN desaparece com seca histórica


PESCADOR JOSÉ LUIZ

                                               AGRICULTOR FABIANO MEDEIROS
                                                   FRANCISCO MEDEIROS (Titi)

O sertanejo que mora no Seridó potiguar nunca sofreu tanto com a falta de chuvas. “Minha mãe dizia que nós tínhamos um mar de água doce na porta de casa, e que jamais nos preocuparíamos com a seca. Agora, só nos resta rezar”, lamenta o agricultor Fabiano Santos. Como ele, mais de 11 mil pessoas que vivem em Acari e 44 mil em Currais Novos dependem do açude Gargalheiras, que está com 5,6% da capacidade. As prefeituras dizem que a situação é desesperadora. O Seridó é uma das regiões mais afetadas pela seca no Nordeste, e fica no semiárido do Rio Grande do Norte, conhecido pela pouca folhagem e sombra da vegetação.
Para a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern), a única solução é racionar. Nas duas cidades, a empresa impôs rodízios para não ter que suspender o abastecimento. Já o escritório local do Departamento de Obras Contra a Seca (Dnocs) diz que não há obras em andamento e a única coisa a fazer agora é torcer para que as chuvas venham logo. Na região, não há boas precipitações desde o início do ano. O Dnocs é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Integração Nacional e tem como papel principal executar políticas para o beneficiamento de áreas e obras de proteção contra as secas e inundações.
A tristeza de Celso é compartilhada pelo pescador José Luiz. Com 60 anos, ele nem precisa mais de canoa. Com o nível da água baixo, é possível descer pelas margens da barragem e andar pelo leito do rio. José é um dos que ainda arriscam passar horas lá e sair com poucos peixes na mão. “É necessidade. Mesmo dando muito, pouco ou quase nada, é daqui que eu tiro o sustento da minha família. Há três anos pescava até 30 quilos por dia de tilápia e camarão. Hoje nem chega a 5 quilos. Dá para comer um pouco e o resto a gente vende”, diz. Sentado numa pedra, quase embaixo da imponente parede do açude, ele deposita na fé a esperança de dias melhores: “Só Deus para nos ajudar”.
Francisco Medeiros, conhecido como Titi, tem 50 anos e diz ser um dos pescadores mais ativos da região. “Pesco desde os 12 anos, e nunca vi uma coisa tão triste assim. Mal dá para viver. Sem dinheiro, atrasam as contas de água, luz e gás. Tem o seguro do defeso, que ajuda, mas que só começa a ser pago no mês que vem. Recebemos um salário mínimo por três meses quando a pesca é proibida por causa da desova. Este ano, como está muito ruim, estão dizendo que vão pagar quatro meses. Sei não”, comenta.
Enquanto aguarda pela recuperação do Gargalheiras, ele mostra o pouco do camarão que conseguiu pegar. “Com o açude cheio, o camarão é graúdo. E dá para pegar mais de 30 quilos. Hoje só tem assim, bem miudinho. Só serve para moer e fazer linguiça de camarão. É trabalho dobrado para ganhar bem menos”, reclama.
Fonte: G1

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